Nós seres vivos estamos a propensos a passar por qualquer tipo de stress o que pode ser normal dependendo da rotina de cada no dia a dia.
Porém, por conta de questões relacionados à ansiedade e estímulos sensoriais, crianças dentro do espectro autista acabam vivendo níveis maiores de estresse e esses momentos mega estressantes podem levá-los ao ponto de crise, ou seja, meltdown e shutdown.
O que é
Se esses termos ainda são estranhos para você, deixa que a gente explica. Em resumo, o meltdown é quando a crise acontece para fora. Ou seja, é uma crise explosiva, facilmente reconhecível, com sinais claros de que o autista está incomodado. Meltdown é um colapso. No entanto, a crise também pode acontecer para dentro, silenciosa: o shutdown. Nesses casos, há um “desligamento” temporário.
Shutdown é um termo por vezes utilizado para nomear um comportamento reacional a uma sobrecarga emocional e sensorial, a situações estressantes e/ou de ansiedade extrema. Pode acontecer com qualquer indivíduo e em qualquer idade, porém, em pessoas com autismo pode ocorrer mais facilmente devido a alterações sensoriais, comportamentos mais inflexíveis e dificuldades de comunicação (o que as deixam mais vulneráveis para que se desorganizem).
O termo vem da informática e refere-se a um comando capaz de “desligar o sistema”. No shutdown, a pessoa parece estar parcialmente ou completamente desligada/distanciada do momento, não respondendo a qualquer forma de comunicação, com o “olhar vazio”, respiração atípica (mais rápida ou lenta). Pode retirar-se do espaço (indo para seu quarto, por exemplo), deitar-se no chão; pode ainda perder a capacidade de se retirar da situação “limite” em que se encontra, mostrando-se paralisada, entre outras ações.
Não é birra!
Nas crianças com autismo, os shutdowns não devem ser confundidos com birras ou encarados como enfrentamento, tratam-se de comportamentos involuntários reacionais e nunca serão utilizados como “tática para se conseguir algo” ou “não fazer algo que não querem”.
No shutdown, diferentemente do meltdown, as emoções ficam internalizadas. As motivações e o “limite” para o shutdown ou meltdown parecem ser os mesmos, o que muda é a forma de expressão comportamental, porém ambas mostram que há uma situação de sofrimento que precisa ser olhada com maior cuidado.
Normalmente nos preocupamos mais com comportamentos externalizantes, então fica o alerta para comportamentos internalizados em pessoas com autismo. Eles também necessitam de avaliação para identificarmos fatores desencadeantes e intervirmos a fim de evitar sofrimento e prejuízos no desenvolvimento dessas pessoas.
Uma vez identificados os fatores desencadeantes, podemos trabalhar em terapias pois nem tudo poderá sempre ser evitado. Questões que desregulam a pessoa com autismo deverão então ser trabalhadas e o apoio dos pais, familiares, amigos, da escola e da equipe multiprofissional é fundamental para o manejo comportamental.
O estresse elevado pode desencadear então um “meltdown”, que é quando o autista se sente extremamente sobrecarregado, acompanhado por uma perda de controle sobre si mesmo, estresse acumulado e um alto nível de ansiedade. Nesses momentos, a pessoa pode acabar se tornando agressiva, caracterizando uma crise “explosiva”.
Meltdown no autismo: colapsos nervosos
Os colapsos são, frequentemente, resultado de momentos e situações que enviam muitos estímulos a um indivíduo dentro do TEA. Além disso, esses estímulos podem criar níveis ainda maiores de ansiedade. A sensação de quem vive um meltdown é, justamente, de que é impossível escapar da sensação. Por isso, eles têm suas próprias formas de lutar contra isso, com reações diversas.
É muito comum, no entanto, que os colapsos aconteçam com acessos de raiva ou ataques de pânico bastante agressivos. E quando dizemos “raiva”, não é que esse momento deve ser entendido como birra, desobediência ou algo parecido. É apenas uma resposta do corpo, uma reação aos estímulos ruins.
Muitos pais, por exemplo, ainda que não conheçam o termo “meltdown”, já estão acostumados a criar um ambiente que minimize os riscos. Afinal, em momentos como esse, o indivíduo pode se expor e expor as pessoas em volta a alguns perigos.
Se uma pessoa tem, por exemplo, sensibilidade ao som de uma panela de pressão, provavelmente os pais/familiares vão evitar usá-la ou fazer isso quando a criança não estiver por perto. A lista, porém, é enorme: podem ser sons, luzes, cores, texturas ou uma mistura de tudo isso.
Shutdown: o “desligamento” do autista
Se o meltdown é uma resposta, digamos assim, de guerra e defesa, o shutdown no autismo é justamente o contrário. Um “apagão”, um “desligamento”, de fato.
O shutdown é como um computador tentando ligar, porém, sem a energia suficiente para fazer isso. O comportamento do autista passa a ser vazio, apresentando capacidade limitada ou nula de comunicação. Quando conseguem, enfim, colocar algumas palavras para fora, as frases podem sair sem sentido.
Com isso em mente, podemos dizer que meltdown e shutdown são duas consequências ou respostas à sobrecarga sensorial, antônimas em suas manifestações, mas causadas pelo mesmo processo. Ou seja, a pessoa se sente sobrecarregada e desmaia, tendo uma crise que pode se expressar de duas maneiras.
Como dissemos, é principalmente devido à saturação sensorial, mas também pode ocorrer por sobrecarga ou transbordamento emocional; por exemplo, quando a pessoa experimenta frustração, estresse ou esforço excessivo, quando está em um ambiente hostil ou quando precisa enfrentar mudanças ou incertezas.
Mas em que consistem esses dois termos?
Bem, o meltdown é uma reação de exteriorização daquele desconforto que a pessoa está sentindo. Assim, você pode gritar, chorar, começar a estereotipar, se machucar, bater em objetos e, por fim, perder o controle temporariamente. São episódios muito marcantes.
Pelo contrário, o shutdown é uma reação de internalização do desconforto. A frustração ou a saturação levam, neste caso, a que a pessoa tenha um “curto-circuito” interno e se desconecte do ambiente. Assim, pode parecer ausente, retraída e monótona, e o mutismo também pode aparecer. Nesse caso, é mais comum que o episódio passe despercebido.
Apesar de suas diferenças, ambas as reações se devem à incapacidade de processar a situação e em ambos os casos há uma perda temporária de habilidades básicas. Durante a crise, pode ser impossível para a pessoa se comunicar ou socializar, pensar com clareza ou até mesmo lembrar como amarrar os cadarços.
Gatilhos comuns para o desligamento e o colapso:
- Acúmulo de demandas. Por exemplo, se ele precisar fazer, num período curto, coisas que sequer estejam relacionadas.
- Mudanças bruscas de planos e/ou da rotina.
- Sobrecarga sensorial e/ou social, por exemplo, exposição a situações sociais fora de casa, excesso de sons, proximidade a texturas, entre outros.
- Necessidade de usar demais a memória e a atenção.
Como lidar com essas crises?
Compreender a origem dessas crises e saber como agir diante delas é fundamental para os familiares de pessoas com TEA e para aqueles que lidam com elas regularmente. Mas todos devemos ter conhecimento e consciência para agir e responder com empatia e respeito.
Embora não seja possível controlar ou evitar completamente essas crises, seu aparecimento pode ser minimizado com algumas medidas. Por exemplo, adaptar o ambiente para que não seja tão estimulante ou desafiador e fornecer às pessoas com TEA recursos de enfrentamento e estratégias de gerenciamento emocional.
Além disso, durante o episódio, é fundamental manter a calma, não gritar – pois isso só piora a situação – e agir com sensibilidade. Validar as emoções da pessoa e acompanhá-la com respeito é fundamental, e isso implica saber ler sua linguagem não verbal e tentar entender para saber, entre outras coisas, quando o contato físico é necessário e quando o acompanhamento silencioso é mais adequado
Suporte durante o meltdown
Uma das coisas mais importantes durante o suporte numa situação de meltdown é, sem dúvida, conhecer em detalhes a pessoa que está em crise. Como dissemos, a crise do meltdown pode acontecer de formas bem diferentes e não existe uma forma padronizada. Por isso, também não existe uma fórmula pronta para ajudar num momento de crise.
Outra coisa importante é verificar se existe o risco de a pessoa se ferir ou ferir alguém. Tire de perto qualquer objeto que pode ser uma ameaça. Mas se isso não for possível, o ideal é, de fato, tirar a pessoa em crise do local. Às vezes, se a ocasião não oferecer absolutamente nenhum perigo, pode ser que deixar o autista passar pelo momento sem interferência, seja o melhor.
Durante as crises, mantenha a calma e não faça perguntas demais. Também não deve adiantar muito dizer para a pessoa ficar calma. Em vez disso, dê orientações claras do que ele precisa fazer. Vá guiando com firmeza a criança para um relaxamento.
Aproveite para lembrá-la de que existem coisas que a criança gosta no local. Use isso para tentar distrair a criança usando as coisas que ela costuma gostar.
Suporte durante um shutdown
Durante um shutdown, algumas coisas não diferem das dicas para um meltdown. Ou seja, o essencial é ser alguém que conheça a situação do autista, seus hábitos, suas dificuldades, comorbidades, entre outras coisas.
Em geral, um shutdown não carrega nenhum perigo para as pessoas ao redor. No entanto, pode ser perigoso para a criança. Algumas, por exemplo, chegam a parar de respirar, se recusam a comer ou mesmo sair do lugar. Imagine o perigo se você está andando na rua e, do nada, a criança resolve deitar-se no asfalto. Pode parecer algo de fácil solução, mas dependendo do tamanho da criança e do adulto mais próximo, pode ser algo difícil de resolver.
Se não existe nenhum perigo, fique observando a criança enquanto dá um tempo para ela se recuperar. Tente chamar atenção com coisas que possam interessá-la e fazê-la se reconectar com a vida real.
O meltdown e o shutdown são resultados de sobrecargas sensoriais, que levam a altos níveis de estresse. Quando isso ocorrer, é importante que o autista encontre compreensão e suporte. É importante remover os fatores da sobrecarga, caso eles possam ser identificados.
Uma vez identificados os fatores desencadeantes, podemos trabalhar em terapias pois nem tudo poderá sempre ser evitado. Questões que desregulam a pessoa com autismo deverão então ser trabalhadas e o apoio dos pais, familiares, amigos, da escola e da equipe multiprofissional é fundamental para o manejo comportamental.
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